Fake news e até o desconhecimento sobre as vacinas pelos profissionais da saúde são apontados como causas da queda na cobertura vacinal.
Apesar de menos atingidas pela covid-19, as crianças ficaram mais suscetíveis a outras doenças que podem ser evitadas com vacinas disponíveis há décadas no Brasil. A cobertura de vacinação contra infecções como tuberculose e sarampo, que já vinha em queda, despencou ainda mais durante a pandemia. As taxas voltaram aos níveis da década de 1980 e especialistas alertam para o risco de ressurgimento de doenças graves.
A pandemia travou ainda mais a vacinação. Entre o início da década de 1980 e o fim dos anos 1990, houve tendência de aumento na cobertura vacinal no Brasil, com estabilidade em patamares elevados nos anos 2000. A partir de 2015, verificou-se a redução na cobertura. “Observamos uma queda progressiva e bem acentuada, onde o último período, de 2019 a 2021, retorna aos níveis de cobertura vacinal do primeiro período, de 1980 a 1982”, afirmou Antônia.
Em relação ao ano de 2019, houve redução na cobertura de todas as vacinas no ano passado, com exceção da pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e a bactéria haemophilus influenza tipo b). Para a poliomielite, doença grave que causa paralisia, por exemplo, a cobertura chegava a 98% em 2015, mas caiu para 76% em 2020.
Em relação a 2019, a redução foi de oito pontos porcentuais, conforme dados do Ministério da Saúde. Também houve queda na cobertura da hepatite B. A taxa chegava a 79% em 2019 e, no ano passado, ficou em 63,4%. A aplicação da vacina BCG, contra a tuberculose, alcançava 3 milhões de doses em 2015 enquanto que no ano passado foram aplicadas apenas 2,1 milhões.
Os dados estão sujeitos a alterações, mas evidenciam a necessidade de traçar estratégias para alcançar as crianças. No ano passado, a porcentagem de municípios com cobertura adequada em crianças menores de um ano de idade ficou abaixo de 50% para sete vacinas. Só 38% dos municípios têm vacinação adequada contra a pólio, por exemplo – menor porcentual pelo menos desde 2015. É considerado adequado o porcentual acima de 90% para rotavírus e BCG e superior a 95% para os demais imunizantes.
O desafio é maior na Região Norte. A segunda dose do tríplice viral, por exemplo, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, alcançou menos de 50% de cobertura em todos os Estados do Norte neste ano. O resultado da taxa baixa é o reaparecimento do sarampo, que já era considerado erradicado. Em 2019, foram 20,9 mil casos confirmados de sarampo. Neste ano, há casos nos Estados de Pará, Amapá, Ceará, Rio, São Paulo e Alagoas.
Durante a pandemia, houve queda na incidência do sarampo e de outras doenças de transmissão respiratória – apesar da redução na cobertura pelas vacinas -, o que tem relação com isolamento social e uso de máscaras. Pesquisadores temem, porém, que as doenças voltem a aparecer com o retorno das interações sociais e a baixa vacinação. “Estamos brincando com o fogo”, disse o professor de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará Robério Dias Leite, durante o evento da Sbim.
Atuação
Segundo especialistas, a queda nas coberturas não foi causada pela pandemia, mas agravada por ela. Entre os fatores estão o medo de buscar a vacina e contrair a covid, além da desarticulação da atenção nos postos. Nas fases mais agudas da pandemia, até Unidades Básicas de Saúde foram usadas para atender pacientes. O reaparecimento dessas doenças se torna um problema ainda maior uma vez que parte dos profissionais de saúde não está capacitada para tratar essas infecções – porque nunca viu casos do tipo. Também não é pequeno o número de médicos que não prescrevem as vacinas – o que demanda melhoria na formação.
“Infelizmente o que temos observado é que não só os políticos são anticiência. Nossos colegas também. Temos de ser o exemplo e tentar convencê-los”, disse Juarez Cunha, presidente da Sbim.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que, mesmo na pandemia, a imunização é mantida e a orientação é para que a população procure os postos. A pasta orienta, ainda, que gestores municipais façam parcerias locais para descentralizar o máximo possível a vacinação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Época Negócios